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Havia uma venha senhora - há algum tempo já falecida - que sentava-se sempre a tardinha nas escadas se sua casa geminada. Aparentava cerca de 70 anos, as rugas profundas lhe incitavam experiência e carregava consigo dois pedaços de madeira escura arredondada que prendiam os tecidos os quais bordava. Nunca havia furado os dedos com a fina agulha.
Ela ficava sentadas nos degraus, cumprimenta seus conhecidos que voltavam da rotina moderna corrida quando estes tinham tempo. Algumas raras vezes, alguém novo, um novo amigo, parava e lhe falava algo. Também eram rápidos.
- Boa tarde - eles diziam. Perguntavam seu nome, se fazia bordados para vender e se iam na velocidade dos carros. Ela nunca os respondia
Mas havia um; uma criança. Depois que a correrria aliviava, quando o sol já começava a alcançar a linha do horizonte, quem alcançava sua casa era um garotinho. Usava o uniforme do colégio (nas quintas sua camisa estava sempre mais suja), a mochila nas costas. Ela não o vira acompanhado uma vez sequer.
Aquela era uma quinta-feira.
Como costumeiramente, a senhora estava em seus degraus, seu bordado já estava quase pronto. Dava os pontos finais de uma cena de pôr-do-sol no oceano com a luz amarelada de seu próprio pôr-do-sol.
O garotinho aponto na esquinha. Seus passos eram apressados; quase corria. A mochila sacolejava em suas costas; os pés quase tropeçaram numa pedrinha no caminho; um sorriso era reprimido em seus lábios. A verdade era que ele queria chegar o mais cedo possível à casa daquela senhora misteriosa; que nem sequer lhe dissera seu nome.
Ela estava lá. Não era novidade. Assim que o viu, fitou-o com seus olhinhos verdes pequeninhos e sorriu segundos depois.
- Olá - o garotinho sorriu de volta, mas conseguindo mais o conter. Chegou mais próximo, arfante e observou o bordado da senhora. - É muito bonito...
Com os últimos raios de sol vieram os pontos derradeiros no tecido. Ela ergueu seus olhos para ele. O garoto sentiu vontade de piscar, mas não conseguia deixar de mergulhar no verde dos olhos da senhora. Quando tudo se tornou mais escuro, os olhos dela perderam o brilho. Ela tirou o tecido devagar das madeiras arredondadas e estendeu ao garoto. Ele não conseguiu deixar de notar que suas mãos tremiam levemente.
- Pra mim...?
Hesitante, o garotinho pegou o tecido, observando os pontos perfeitamente acabados. A senhora sorriu e tateou o degrau a procura de algo. Estendeu-lhe a mão movamente e, aninhado entre as rugas de sua palma, estava um pequeno botão dourado, que o garoto também pegou. Houve um silêncio profundo. Não haviam nem carros na rua, nem gritos, nem ninguém além daquele jovem garotinho e a velha senhora.
- Eu... já ta tarde... preciso ir... - Deu dois passos pra trás - Obrigado.
E foi-se, após olhar pra a casa geminada espremida entre tantas outras. A senhora já não estava mais lá.
Dois meses se passaram, até que uma carta chegou à uma casa grande, moderna e de uma família rica. Intimava um garoto cuja descrição física combinava perfeitamente com o filho único do casal dono de tal casa. Dizia que era esperado para receber uma herança deixada por um testamento de uma senhora. Quando os pais o levaram, o garoto descobriu uma pequena foto, ao qual reconheceu como a senhora dos bordados.
A sua herança?
Ao lado da foto havia uma lata de metal claro. Era pesada. Ao abrí-la descobriu uma quantidade incrível de botões. Dentre milhares, reconheceu vários outros botões dourados.
Segundo o que o disseram, eram os únicos bens da senhora que morrera de causas naturais.
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